segunda-feira, 23 de agosto de 2010

CONTO POPULAR DA GUINÉ-BISSAU

CONTO POPULAR DA GUINÉ-BISSAU – Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a idéia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua. Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar. A lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio. O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Jabulani e o Leão



Há muitas e muitas luas, no tempo em que as pessoas conversavam com os animais, vivia um menino chamado Jabulani. Ele fazia parte dos suázipovo muito corajoso que mora em uma região da África cheia de altas montanhas e florestas.
Na língua do seu povo, Jabulani significa “aquele que traz felicidade”. E foi exatamente isso que sua mãe e seu pai sentiram quando ele chegou ao mundo, em uma manhã quente de janeiro: Jabulani seria alguém especial que traria muito amor a todos.
Desde pequeno, Jabulani gostava de ajudar todo mundo. Sentia uma felicidade imensa no coração quando isso acontecia. Para ele, era como se uma pequena mágica ocorresse: ajudar fazia a outra pessoa se sentir melhor, possibilitava que algo bom acontecesse, tornava Jabulani e o mundo mais felizes. Seu avô dizia que esta era uma das mágicas mais poderosas que o ser humano sabia e podia fazer.
Um belo dia, Jabulani andava contente da vida pela floresta, depois de brincar com seus amigos. Quando atravessava uma pequena clareira, ouviu uma voz muito triste, pedindo:
- Socorro, alguém me ajude, por favor... Preciso sair daqui!
Depois de muito procurar de onde vinha aquela voz tão chorosa, Jabulani descobriu. Ali, no meio do mato, havia uma velha armadilha escondida por um caçador. Dentro, quem estava? Um leão enorme, muito chateado.
- Senhor leão, eu sou Jabulani – apresentou-se com prontidão o menino.
- O que aconteceu com o senhor?
- Oh, até que enfim alguém apareceu neste triste lugar – o leão suspirou aliviado. – Menino, estou preso aqui quase um dia inteiro. Tenho muita sede e fome. Por favor, me ajude a sair – e fez uma cara de dar dó.
Jabulani gostava muito de ajudar, mas não era bobo não. Sabia que tinha de tomar cuidado e, se soltasse o leão, ele poderia atacá-lo e comê-lo com uma dentada só.
- Senhor leão, entendo sua situação, mas tenho medo. Como me disse que está com muita fome, quem me garante que o senhor não vai sair da armadilha e me comer?
- Eu não faria uma coisa dessas com você, meu rapaz! Como eu poderia atacar o meu salvador? Isso não seria certo. Eu prometo que não farei mal a você.
Jabulani pensou, pensou e pensou, e decidiu confiar no leão. Afinal, ele havia prometido. E promessa é promessa!
- Ta bom, ta bom! Eu vou confiar na promessa do senhor – Jabulani chegou perto da armadilha e puxou a corda que mantinha a porta fechada.
O leão saiu da armadilha, suspirou, espreguiçou-se e esticou as patas, afinal, ele havia ficado muito tempo preso em um lugar pequeno e as pernas estavam dormentes.
Depois disso, virou-se lentamente e olhou bem fundo nos olhos do menino.
- Jabulani, preciso beber um bom gole de água no rio antes de comer você!
Jabulani não acreditou no que o leão falava, achou que ele estava mangando.
Não podia ser verdade.
- O senhor está brincando? Só pode ser isso, não é? – perguntou o menino com um sorriso de medo no cantinho da boca.
O leão olhou bem sério:
- Não, não estou não. Você vai beber água comigo e depois vou te comer.
Estou com muita fome.
- Mas o senhor prometeu que não faria isso comigo! O senhor prometeu – gritou Jabulani.
O leão coçou a cabeça e respondeu:
- Prometi, sim, você tem razão. Mas promessa feita por alguém que está com muita fome, na hora do desespero, não conta. Por isso, acho que é justo comer você!
Assustado, Jabulani tomou coragem e falou bem alto, com toda a força dos seus pequenos pulmões:
- Não é justo, não! Eu ajudei o senhor! Não se pode fazer isso com alguém que nos ajuda. Vamos perguntar a opinião dos outros animais da floresta e saber quem tem razão.
O leão estava com fome, mais não queria ser injusto. Não queria ficar com dor na consciência. Por isso, era melhor ouvir a opinião dos outros.
- Tudo bem, tudo bem. Se algum deles achar que minha decisão não é correta, eu o deixarei partir. Mas façamos a coisa rapidamente, porque minha barriga está roncando demais.
Quando estavam subindo a ladeira, depois de beber água no rio, Jabulani e o leão encontraram um velho burrinho magro e sem dente, tentando arrancar um capim seco.
- Senhor burro, boa tarde! Precisamos ouvir sua opinião sobre um caso de vida ou morte.
- Pois não. Diga menino!
Então Jabulani contou toda a história para o burro: como havia encontrado e salvado o leão e como agora ele, muito ingrato, queria comê-lo.
- O senhor acha justo?
O burrinho ficou em silêncio, pensando no que iria responder. Depois de um tempo que pareceu grande, mas tão grande para Jabulani, o burrinho tossiu, limpou a garganta e respondeu:
- Acho justo sim, muito justo que o leão coma você. Afinal, ele está com fome e vocês, seres humanos, não pensam duas vezes antes de sacrificar um animal quando assim o desejam – e olhou para Jabulani com uma mistura de raiva e tristeza. – Vejam a minha situação. Trabalhei a vida toda para um homem que cuidou de mim enquanto fui útil para ele. Eu carregava dia e noite nas minhas costas tudo o que ele precisava. Mas depois que fiquei velho e mal consigo me alimentar sozinho ele me abandonou aqui na floresta para que eu morra de fome. Você acha isso justo?
Jabulani abaixou a cabeça e disse um “não” bem baixinho. Ele não achava justo o que tinham feito contra o burrinho, mas por que ele tinha de morrer por causa dos erros de outros homens? Então o leão se virou para Jabulani e falou:
- Veja, ele me deu razão. Vamos acabar logo com isso – e levantou as garras para atacar o menino.
- De jeito algum, o burro é somente “um” animal. Vamos perguntar para outros.
Contrariado, o leão concordou resmungando e Jabulani suspirou de alívio.
Depois eles encontraram uma vaca pastando. Jabulani e o leão a cumprimentaram e o menino logo contou a ela o caso todo da armadilha. A vaca fez um “Mmuu” bem bravo e falou:
- Os seres humanos são muito egoístas, só pensam neles. Para mim, são todos iguais! Nós, vacas, damos o nosso melhor leite para vocês. Puxamos o arado para que vocês possam plantar as sementes. E o que vocês fazem quando chegamos á velhice? Nos matam, nos comem e usam o nosso couro para a roupa. Por isso, acho que o leão está correto em te comer. Nada mais justo do que um animal com fome comer sua presa. Vocês, seres humanos, agem da mesma forma ou até muito pior conosco, animais.
Jabulani pensou: “Acho que estou perdido e nunca mais vou voltar para minha casa, nunca mais vou ver meu pai, minha mãe, meus irmãos, meus amigos...
Nunca mais!”
Sem esperanças, Jabulani ainda contou a história da armadilha para um grupo de veados, depois para dois pássaros, uma hiena e três coelhos. E todos concordaram que o leão devia comê-lo!
Quando o leão já estava se preparando para saborear o garoto, eis que aparece, como quem não quer nada, um pequeno chacal.
- Deixe-me perguntar para ele, senhor leão. Só para ele.
- Pois será o último e não insista mais – decretou o leão.
Então, Jabulani chegou perto do chacal e contou toda a história. O chacal fez várias perguntas e, com cara de bobo, disse para os dois:
- Não sei se entendi direito. Para dar minha opinião, precisaria ver melhor como as coisas aconteceram. Levem-me até a armadilha!
E foi assim que Jabulani e o leão fizeram. Quando chegaram ao lugar o chacal perguntou:
- Sei não – coçou a cabeça. – Não consigo entender com o leão entrou nesta armadilha. Ela parece tão pequena para um leão tão grande e forte.
Cansado e com muita fome, o leão nem pensou:
- Ta bom, ta bom... Vamos logo com isso. Eu vou entrar lá para você ver – e de um pulo entrou na armadilha.
Então, Jabulani correu e com um único movimento soltou a corda. A grade da armadilha se fechou rapidamente. Confuso, o leão não entendeu o que havia ocorrido.
Com o coração apertado, Jabulani deu uma última olhada para o leão presto e foi embora para cara. E o chacal desapareceu como um fantasma na mata.

Lenda de Oxum


Em um belo dia,
Sàngó que passava pelas propriedades de Èsù,
avistou aquela linda donzela que penteava
seus lindos cabelos a margem de um rio e de pronto agrado,
foi declarar sua grande admiração para com Òsùn.
Foi-se a tal ponto que Sàngó,
viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher,
e perguntou se não gostaria de morar
em sua companhia em seu lindo castelo na cidade de Oyó .
Òsùn rejeitou o convite,
pois lhe fazia muito bem a companhia de Èsù.
Sàngó então irado e contradito,
sequestrou Òsùn e levou-a em sua companhia,
aprisionando-a na masmorra de seu castelo.
Èsù, logo de imediato sentiu
a falta de sua companheira e saiu a procurar,
por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo
sua doce pupila de anos de convivência.
Chegando nas terras de Sàngó, Èsù foi surpreendido por um canto
triste e melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Oyó,
da mais alta torre. Lá estava Òsùn,
triste e a chorar por sua prisão e permanencia na cidade do Rei.
Èsù, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Òrùnmílá,
que de pronto agrado lhe sedeu uma poção de transformação
para Òsùn desvencilhar-se dos dominíos de Sàngó.
Èsù, atravez da magia pode fazer
chegar as mãos de sua companheira a tal poção.
Òsùn tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se
em uma linda pomba dourada,
que voôu e pode então retornar a casa de Esù.

A dispersão dos macacos

Antigamente, os macacos viviam num único grupo. Moravam num deserto onde não havia alimentos. Meteram-se, então, aos campos dos homens, para roubar comida; mas os donos guardaram-na. Vendo isso, os macacos combinaram o seguinte:

"Tomemos uma macaca, cortemos-lhe o rabo, transformemo-la, façamos dela uma mulher para que casem-se com ela, tenho um campo e nós aí comamos".

Agarraram numa macaca, cortaram-lhe o rabo e fizeram dela uma mulher. Um homem casou-se com ela e as pessoas abriram-lhe um campo muito grande. Depois do marido preparar a terra, homem e mulher quiseram semeá-lo, mas ela afirmou que podia fazer esse trabalho sozinha.

Quando a macaca foi semear, entoou esta canção:

Macacos, macacos,
Mueé, mueé
Vinde semear o milho

Eles ouviram-na. Semearam o milho e comeram o que sobrou. Mal se criaram as maçarocas, os macacos chegaram de novo para as comer, mas o marido afugentou-os com a espingarda.

Chegou o dia da colheita. Marido e mulher levaram o milho para casa. Os macacos ficaram furiosos e resolveram colar novamente o rabo à macaca. Levaram o rabo e iam cantando assim:

Andemos depressa
entreguemos o rabo à dona

Ao ouvirem esta canção, as pessoas ficaram surpreendidas. Os macacos chegaram a cantar e, encontrando a mulher deitada no chão, puseram-lhe o rabo, e logo ela se transformou em macaca, como dantes.

A aldeia estava cheia de macacos, mas, quando os homens pegaram nos arcos e nas espingardas, os macacos dispersaram, dois para um lado, três para o outro, e nunca mais se reuniram. Por isso há macacos em toda a parte.

Lenda dos Orixás


Um babalaô me contou:

"Antigamente, os orixás eram homens.
Homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes.
Homens que se tornaram orixás por causa de sua sabedoria.
Eles eram respeitados por causa de sua força,
Eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.
Foi assim que estes homens tornaram-se orixás.
Os homens eram numerosos sobre a Terra.
Antigamente, como hoje,
Muitos deles não eram valentes nem sábios.
A memória destes não se perpetuou
Eles foram completamente esquecidos;
Não se tornaram orixás.
Em cada vila, um culto se estabeleceu
Sobre a lembrança de um ancestral de prestígio
E lendas foram transmitidas de geração em geração para
render-lhes homenagem".

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A criação da terra

No princípio, o Deus único criou o Sol e a Lua, que tinha a forma de cântaros, a sua primeira invenção. O Sol é branco e quente, rodeado por oito anéis de cobre vermelho, e a Lua, de forma idêntica tem anéis de cobre branco. As estrelas nasceram de pedras que Deus atirou para o espaço. Para criar a Terra, Deus espremeu um pedaço de barro e, tal como fizera com as estrelas, arremessou-o para o espaço, onde ele se achatou, com o Norte no topo e o restante espalhado em diferentes regiões, à semelhança do corpo humano quando está deitado de cara para cima.

(Mito africano de origem Dogon reveladas por um velho cego, Ogotemmêli, escolhido pela tribo para contar aos seus amigos europeus os segredos da mitologia dos Dogons, relatado por Parrinder em África)

Todos dependem da boca


Certo dia, a boca, com ar vaidoso, perguntou:
- Embora o corpo seja um só, qual é o órgão mais importante?
Os olhos responderam:
- O órgão mais importante somos nós: observamos o que se passa e vemos as coisas.
- Somos nós, porque ouvimos – disseram os ouvidos.
- Estão enganados. Nós é que somos mais importantes porque agarramos as coisas, disseram as mãos.
Mas o coração também tomou a palavra:
- Então e eu? Eu é que sou importante: faço funcionar todo o corpo!
- E eu trago em mim os alimentos – interveio a barriga.
- Olha! Importante é aguentar todo o corpo como nós, as pernas, fazemos.

Estavam nisto, quando a mulher trouxe a massa, chamando-os para comer. Então os olhos viram a massa, o coração emocionou-se, a barriga esperou ficar farta, os ouvidos escutavam, as mãos podiam tirar bocados, as pernas andaram... mas a boca recusou comer. E continuou a recusar.
Por isso, todos os outros órgãos começaram a ficar sem forças...

Então a boca voltou a perguntar:
- Afinal qual é o órgão mais importante no corpo?
- És tu boca, responderam todos em coro. Tu é o nosso rei!


Nota : todos somos importantes e, para viver, temos de aprender a colaborar uns com os outros...

O segredo de nossa casa


Certo dia, uma mulher estava na cozinha e, ao atiçar a fogueira, deixou cair cinza em cima do seu cão.
O cão queixou-se:
– A senhora, por favor, não me queime!

Ela ficou muito espantada: um cão a falar! Até parecia mentira...

Assustada, resolveu bater-lhe com o pau com que mexia a comida. Mas o pau também falou:
- O cão não me fez mal. Não quero bater-lhe!

A senhora já não sabia o que fazer e resolveu contar às vizinhas o que se tinha passado com o cão e o pau.

Mas, quando ia sair de casa a porta, com um ar zangado, avisou-a:
- Não saias daqui e pensas no que aconteceu. Os segredos da nossa casa não devem ser espalhados pelos vizinhos.

A senhora percebeu o conselho da porta. Pensou que tudo começara porque tratara mal o seu cão. Então, pediu-lhe desculpa e repartiu o almoço com ele.


Nota : é fundamental sabermos conviver uns com os outros e assegurar o respeito mútuo, embora às vezes seja difícil...

O menino gravido


Em um tempo muito distante, nas terras do povo xhosa, havia um homem e uma mulher que se amavam apaixonadamente. No início da primavera, eles se casaram e deram uma linda e colorida festa que agitou a comunidade.

Depois de alguns anos os dois desejavam muito ter um filho ou uma filha que os alegrasse. Mas a criança não chegava. Então eles decidiram ir ao encontro de um famoso Sangoma, que morava na floresta.

─ Pai Sangoma, você pode nos ajudar a ter um filho?

O velho e sábio Sangoma era conhecedor dos mistérios das plantas de toda a floresta e da cira de muitas doenças de corpo e de espírito.

─ Sim, eu posso ajudá-los, mas desde que vocês façam tudo como eu explicar.

Eles concordaram imediatamente e prestaram muita atenção nas palavras do sábio.

─ Vou entregar a vocês quatro raízes de plantas sagradas que vivem nesta floresta. Quando chegarem em casa, vocês devem separá-las em dois montes. O primeiro monte deverá ser aquecido na fogueira, o segundo, colocado com água em uma garrafa. A mulher deverá mascar o primeiro monte de raízes e, no dia seguinte, beber água das raízes do segundo monte.

E o sábio entregou as quatro raízes embrulhadas em um pequeno pedaço de pano, dizendo:

─Em troca, quero que vocês me deem um boi logo depois do nascimento da criança.

O casal concordou e agradeceu muito ao Sangoma. Partiram imediatamente para sua aldeia. Chegando lá, fizeram tudo como ele havia explicado. A mulher ficou grávida. Nove meses depois nasceu um lindo garotinho de olhos grandes e choro forte. Os pais ficaram tão felizes e envolvidos com os novos afazeres, que esqueceram completamente da promessa de enviar o boi para o sábio da floresta.

O menino foi crescendo. Quando estava chegando a adolescência, seus pais decidiram que era hora de ter mais um filho. Resolveram, então, voltar à floresta e pedir mais raízes ao Sangoma.

─ Como vocês chegam aqui e me pedem mais raízes sem ter entregado o boi que eu pedi? Vocês tiveram o que procuravam, mas não cumpriram o acordo.

O pai e a mãe ficaram envergonhados e pediram muitas desculpas para o sábio. Como eles puderam esquecer?

─ É muito fácil não lembrar daqueles que nos ajudaram depois que conseguimos o que queremos falou o sábio, bravo.

Eles pediram desculpas mais uma vez e, cabisbaixos, dirigiram-se à porta da casa do Sangoma para partirem rumo às suas terras.

─ Esperem! Como vejo que não fizeram por mal e se envergonharam do seu erro eu darei a vocês as raízes depois que entregarem o boi que me devem.

O casal agradeceu e voltou para a sua aldeia. Ao chegarem, imediatamnete pediram a um amigo que levasse o boi ao velho Sangoma. O amigo voltou com o recado para que fossem buscar as raízes no dia seguinte.

─ Amanhã temos compromissos aqui na aldeia. Não poderemos nos afastar disse o pai, preocupado.

─ E se enviarmos nosso filho para buscar as raízes? Ele já tem 12 anos e o caminho até lá é muito fácil.

O pai concordou com a proposta da mãe. Então, eles chamaram o menino:

─ Você acha que pode buscar as raízes na casa do Sangoma?

─ Claro, pai! e o garoto pulou de alegria. Já não sou mais criança. Posso ir e voltar bem rápido!

E assim foi. O garoto arrumou sua pequena bolsa e partiu para a casa do Sangoma. Lá, explicou para o velho sábio que seus pais o haviam enviado para buscar a encomenda. O Sangoma entregoulhe as quatro raízes cobertas por um pano e pediu que o menino alertasse os pais para que fossem muito cuidadosos na preparação delas.

─ Não se preocupe. Tudo vai dar certo! e o menino agradecu ao Sangoma e partiu para casa.

Quando estava no meio do caminho, a curiosidade foi tão grande que ele não aguentou. Abriu o pano e olhou atentamente as quatro raízes.

─ Acho que não vai ter problema se eu experimentar só um pedacinho!

E mordeu o pedaço da primeira raiz, muito doce e suculenta. O gosto era tão bom que ele resolveu experimentar mais um pedaço. E depois outro e mais outro. E assim foi, até que não sobrou mais nada das duas raízes doces. Então experimentou as outras duas, mas elas eram tão amargas que ele as cuspiu no chão.

Foi quando ele percebeu o que fizera.

─ E agora, o que vou falar? Só sobraram duas raízes!

Com medo de que sua mãe e seu pai ficassem muito bravos, o menino resolveu não contar a verdade quando chegasse em casa. “ Tomara que essas duas raízes que sobraram sejam suficientes para minha mãe engravidar “ , pensou o garoto.

Logo que o menino chegou em casa, a mãe pediu para ver as raízes:

─ Que estranho, da outra vez eram quatro raízes e agora são só duas... O Sangoma explicou alguma coisa para você?

─ Não, mãe, ele não disse nada. Só falou que a senhora deve aquecer esta raiz na fogueira e depois mascá-la. Ea outra deve ser colocada dentro de uma garrafa cheia de água. No dia seguinte, a senhora deve beber a água.

A mãe e o pai não desconfiaram de nada e fizeram tudo como o menino explicou. Mesmo assim passaram-se os meses e a mãe não engravidava.

Mas o menino... Ele começoua engordar, a engordar, e os seus peitos passaram a crescer, a crescer, ficando cada vez mais doloridos. Sua barriga foi ficando grande e ele sentia como se tivesse alguém morando lá dentro. No quarto mês, o garoto percebeu que esse “ alguém ” começou a se mexer muito.

“ Acho qe estou grávido ” , constatou, desesperado. “ O que eu faço agora? Como vou dizer aos meus pais? E os meus amigos? Todos vão rir de mim! ”

Ele tinha tanta vergonha, quee não contou seu segredo para ninguém. Tinha vergonha de ter mentido para seus pais. Sua família não desconfiou, porque alguns primos do menino haviam ficado muito magros ou gordos quando entraram na adolescência. “ Coisas de quem está crescendo ” , dizia o avô.

Um dia, quando ajudava seu pai a cuidar do gado, ele começou a sentir uma forte dor na barriga, que ia e voltava com uma intensidade crescente.

─ Meu filho, você está bem? percebeu o pai.

─ Pai, preciso ir para casa, deitar um pouco reclamou o menino. Sindo dores fortes na cabeça e na barriga.

─ Vá e peça para sua mãe um chá bem forte, daquele que ela sabe fazer tão bem.

E ele foi embora, mas não para sua casa. Foi para o meio da floresta. Lá, ele cavou um buraco, encheu de folhas e se deitou dentro, como se fosse um ninho. As dores na barriga foram aumentando e, de repente, um choro auto de bebê foi ouvido em toda a mata. Havia nascido uma linda e gorducha garotinha!

─ O que eu faço agora com você? falou desesperado o rapaz, olhando a bebê. O que será de mim? E de você?

A bebê chorava alto e sem parar, mas, quando achou o bico do peito do menino, começou a mamar com muita fome. Depois de mamar bastante, dormiu um sono profundo.

O menino, então, saiu correndo para casa, com medo de que seus pais tivessem dado falta dele. Quando chegou, seu pai já estava na porta para sair à sua procura:

Onde se meteu? Você nos deixou muito preocupados!

O menino mentiu e disse que havia decidido descansar embaixo de uma árvore e que acabara caindo em um sono profundo.

─ Mas e a dor que você estava sentindo? perguntou a mãe, assustada.

─ Passou. Acho que foi uma fruta verde que comi ontem respondeu o menino.

E todos foram jantar. O menino comeu como se susa barriga fosse um buraco sem fundo. Os pais estranharam, mas depois acharam que era coisa de adolescente, de gente que está crescendo muito rápido.

À noite depois que todos haviam se deitado, o menino se levantou e correu até a floresta. Tinha de ver a bebê. Ela estava chorando e logo parou quando começou a mamar no peito dele. Depois, a bebê caiu no sono.

“ Ela é tão linda “ , pensou ele, enquanto a observava dormir. Pela primeira vez, sentiu que ela era sua filha. Dormiu abraçado a ela e, no começo da manhã, voltou para casa e se deitou na cama antes que sua mãe chegasse para despertá-lo.

Ao longo do dia, enquanto trabalhava com seu pai, cuidando do gado da família, ele sempre inventa um motivo para correr até a floresta e amamentar e cuidar de sua bebê. À noite, quando os pais se recolhiam, ele saia de fininho para a floresta.

Depois de três dias, a mãe começou a desconfiar que algo estava errado. Então, quando a noite chegou, ela fingiu que tinha ido dormir, mas ficou escondida, vigiando o menino. Quando ele se levantou e correu para a floresta, ela o seguiu. Não acreditou no que viu: seu filho estava amamentando um bebê! A mãe logo entendeu tudo e resolveu voltar para casa, antes que o menino percebesse.

No dia seguinte, quando ele saiu com o pai para cuidar do gado, a mãe correu para a floresta e pegou a bebê. Trouxe-a para casa, banhou-a, alimentou-a e brincou com ela. Enquanto isso, mais uma vez o menino inventou uma desculpa para o pai e correu para a floresta para amamentar e cuidar da garotinha. Quando chegou lá, ficou desesperado. A menina não estava no ninho.

Ele a procurou por toda a floresta. Rezou e implorou aos deuses e aos antepassados para que eles o ajudassem. Chorou e chorou. Parecia que haviam arrancado uma parte de seu coração, roubado o seu espírito:

─ Cadê minha filhinha? Cadê?

Já mais nada importava na vida dele, a não ser encontrar a bebê. “ Será que algum animal a comeu? Não podia ter deixado minha filha sozinha... “

E, assim a noite chegou. E, assim a noite foi embora e o sol anunciou um novo dia. Ele ainda estava confuso, procurando a bebê na mata, não sabia o que fazer, não sentia fome nem sede.

No dia seguinte, depois de tanto procurar, arrastando as pernas, ele foi para casa, disposto a contar tudo a seus pais. Quando chegou, sua mãe segurava a bebê no colo.

─ Mamãe, você teve uma bebê? perguntou o menino, quase chorando. Posso segurar? Ela é tão linda!

A mãe ficou em silêncio por um tempo.

─ Sim, meu filho, agora ela é sua irmã. Filha de sua mãe, não mais sua e olhou carinhosamente para o filho. Esta minha filha chegou para mim por meio de sua barriga. Assim como outras filhas e filhos chegam para suas mães por meio da barriga de outras mulheres.

O menino concordou e começou a chorar.

─ Desculpe, mãe. Desculpe, pai, por não ter contado a verdade. Sinto muita vergonha.

O pai, comovido com a dor do menino, disse:

─ Sim, meu filho. Sabemos que você lamenta o que ocorreu. Nunca mais minta para nós em nem tome algo que não lhe pertença.

A partir daquele dia, o menino passou a ter um prazer a mais quando ordenhava as vacas de sua família. Ele não podia mais amamentar sua menina, mas o leite das vacas que ele cuidava alimentava sua irmã. E ela se tornava mais linda e esperta a cada dia, alegrando a todos.

O menino cresceu e se tornou um homem muito sábio e especial, que compreendia a importância e a beleza de cuidar da vida e de alimentá-la.